sábado, 19 de outubro de 2013


                                             
   Olá pessoal. Sou o novo membro do blog. Tive a honra de receber o convite para postar contos de minha criação e da parte de autores famosos também. Também estarei postando resenhas e parte do contexto na qual estão envolvidos os livros e as palavras em geral. Vou começar hoje com o seguinte conto que escrevi exclusivamente para o blog rs. Espero que gostem, sejam bem vindos!
  
  
                                           O Milagre das Palavras.

  Chuva torrencial. Uma noite fria. Pista escorregadia. Atraso. Um carro em alta velocidade. Uma noite quase banhada pela tragédia. Esse foi o destino decretado para minha irmã Luciana: Um acidente de carro. Paralisia do que foi desde os pés até o abrir de um esplêndido sorriso, característica forte dela, e o viver de passar dia após dia sujeita a uma cadeira de rodas. Mas uma coisa o acidente não havia tido a audácia de tirar dela: a esperança de viver dias melhores.

  Minha irmã vinha voltando de mais um fim de semana na praia. Ela sempre curtia ir sozinha, adorava a liberdade, tranquilidade e a monotonia de sempre. Como era de se esperar, o trânsito estava caótico e realmente difícil se locomover, ela tinha trabalho e faculdade no dia seguinte, prova para estudar, assuntos sérios a tratar. Quando finalmente conseguiu sair do engarrafamento, uma forte chuva se iniciou. Já era noite. Ela estava, obviamente, mais que apressada, o que de fato quase a levou á morte. Assim consta o relato das várias testemunhas. Foi um choque e tanto para a nossa família ter Luciana agora constantemente banhada por exames e destinada a uma cadeira de rodas, fora o fato de ter que ficar internada por um longo prazo de tempo.

  Como minha mãe e meu pai estavam sempre ocupados com a nossa fase do emprego, e os demais familiares morarem longe, eu estava encarregado de fazer companhia a ela no decorrer do tempo em que ela se encontrasse no hospital. Era da faculdade para o hospital e do hospital pra faculdade, fora o estágio que eu vinha realizando há duas semanas. Mas para mim, aquilo tudo não era nenhum sacrifício e sim mais que um prazer. Luciana sempre esteve do meu lado, em um bom papo entre irmãos dizendo:

  - Coragem Roberto! ‘’O melhor sempre nos espera adiante’’.

  Não gostava, claro, de contemplar Luciana naquele estado. Uma pessoa tão cheia de vida agora limitada a um gélido leito de hospital. Então, eu sempre levava um livro para passar o tempo, aliás, eu sempre amei e muito os livros e toda a sua magia, mas naquele momento me servia mais como refúgio, refúgio esse, de tudo que eu nunca pensei em passar um dia.
Luciana, ao contrário de mim, sempre achou uma perda de tempo viver atrás de livros e passar horas e mais horas lendo. Ela preferia sempre a monotonia: trabalho e o fim de semana para o descanso. Ela nunca imaginaria o poder que as palavras trariam para a completa transformação de sua vida. Mesmo com a paralisia corporal, ela ainda possuía seus sentimentos livres e soltos. As lágrimas sempre banhavam o seu rosto quando eu me aproximava bem dela, e murmurava uma oração. Momento de profunda dor. Mas Deus nunca me abandonou, ou melhor, ele não abandona ninguém, é firmemente fiel no que diz, mas o medo em si, é um grande ‘’ladrão de sonhos’’ nos leva a desacreditar, nos leva a cegar tudo que antes enxergávamos, mas aqueles momentos que eu passei mais próximo de minha irmã, me fez ver o quão breve é a vida, e o quanto temos que aprender a valorizá-la, pois afinal, ela é um presente único.

  Em um certo dia, tive uma brilhante ideia, modéstia parte. Resolvi tirar Luciana daquele profundo estado de melancolia e dor, queria deixa-la mais leve, leve como uma pluma e a tirar daquele profundo escuro que a paralisia lhe trouxe. Procurei diversos livros que possuísse alguma palavra de conforto, esperança e renovação. Mas o que consegui encontrar foram somente meus livros da faculdade e diversas ficções. Em um certo momento, no corre-corre de encontrar esse tal livro, senti cair alguma coisa, coisa essa empoeirada e esquecida. Era a Bíblia que ganhei dos meus pais no dia do meu aniversário. Uma vergonha! Na cansativa rotina do dia a dia nunca cheguei a toca-la, muito menos descobri-la. Agora sim, achei o livro que eu precisava, não invalidando os demais, mas esse sim tão esquecido por nós, tão bem elaborado para no guiar, merece toda a atenção. Meus pais sempre visitavam Luciana, sempre procuravam um tempo, por mais que breve, para visitá-la e mostrar o grande amor incondicional que possuíam, como diz uma frase que vi em certo momento por ai: ‘’Os nossos pais podem não ser perfeitos, mas nos amam perfeitamente’’. Meus pais, como eram evangélicos, logo trataram de encontrar os versículos da Bíblia para se encaixar naquele momento. Nos reunimos em uma determinada noite para esse momento. Ao redor de Luciana, cantávamos lindos hinos da igreja, líamos profundas passagens da Bíblia, tudo em baixo som por se tratar de um ambiente que exigia um certo silêncio, e os pacientes que se encontravam próximos de nós participavam também atentamente. Mas o que aconteceu em seguida tomou a todos de uma surpresa tremendamente chocante. Foi tudo muito rápido. Luciana abriu um esplêndido sorriso, e milagrosamente disse lentamente:

  - As... palavras... têm... poder!

  Aquela noite foi em suma um grande milagre. Milagre esse que vemos das mais variadas formas no decorrer da nossa vida, mas naquele caso em especial, foi o milagre das palavras.

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